domingo, 17 de outubro de 2010

Da geração 81 sob o signo de aquário

Autoria: Beatriz Provasi
Eu vivo uma geração sem expoentes
Uma geração de estrelas cadentes que sequer se sustentaram no céu para dar-nos suas quedas em espetáculo celestial
Uma geração de trevas ofuscada pelas luzes eletrificadas que explodem retinas
A minha geração ficou no meio do caminho entre a que foi e a que talvez virá – virá?
Nem sexo, drogas e rock’n roll nem açaí com guaraná
Uma geração big mac, fast food, self service, coca diet com entrega a domicílio que cresceu na frente da TV
Eu não sei da internet o tanto que ela sabe de mim nem li tantos livros assim
Vivo entre o passado e o futuro a semente estéril de uma geração imprensada em cima do muro
E eu aqui deslocada sem estourar numa ploc, sem entender nada de rock, achando que a minha vida é um pit stop
Onde é que isso tudo vai parar?
Sei lá, acho que a minha geração perdeu a hora, saca? Tava dormindo e não ouviu o despertador tocar. Acordou meio-dia no meio da vida na casa dos pais achando que viver ou morrer tanto faz.
É uma geração que não dá poema. Não rima nem arrebata. Não ladra nem morde. Jamais daria um uivo. E nem consegue arrancar suspiros ou suspender respirações.
Sendo fruto de uma geração que não representa nada, nem a minha própria geração eu sou capaz de representar.
Eu vivo na contramão de uma geração que não tem fluxo pra lugar algum.
Então, como é que eu posso dar em algum lugar?
Não, meu bem, eu não quero acordar. Me deixe dormir até meio-dia no meio da vida na casa dos pais achando que viver ou morrer tanto faz. Eu desliguei o despertador, então, faça o favor, não me acorde, meu bem. A minha geração dorme de olhos abertos, mas eu, meu bem, eu só quero sonhar. Me deixe sonhar que nesse meio do caminho eu ao menos sou pedra, e não terra pisada como o resto da estrada.